CENTRAIS SINDICAIS REPUDIAM CALÚNIAS DITAS POR PAULO GUEDES. ELE NÃO TEM MORAL PARA FALAR DO MOVIMENTO SINDICAL, DIZ NOTA DAS CENTRAIS:
As CENTRAIS
SINDICAIS: CSB, CTB, CUT, CSP-CONLUTAS, FORÇA SINDICAL, NCST e UGT, emitiram
nota conjunta contra a fala do ministro Paulo Guedes, da Economia, que caluniou
o MOVIMENTO SINDICAL, em evento ocorrido em seminário “Declaração de Direitos
de Liberdade Econômica” promovido pelo STJ - Superior Tribunal de Justiça.
Na nota, as CENTRAIS
criticam o fato de o ministro ter dito, em evento do STJ, que as organizações
sindicais foram “parcerias da ditadura militar brasileira”.
“O que ocorreu foi o inverso do que sugerem as infâmias vomitadas
pelo senhor Guedes. Na ditadura de 1964, os sindicatos foram vítimas de
intervenções, com seus dirigentes mais combativos afastados compulsoriamente e
colocados no limbo pelo regime”, refutaram com veemência as centrais sindicais.
Leia abaixo
a íntegra da nota emitida pelas Centrais Sindicais:
PAULO GUEDES NÃO TEM MORAL PARA FALAR DO
MOVIMENTO SINDICAL
O ministro da Economia, Paulo Guedes, decidiu
transformar o movimento sindical brasileiro em alvo de suas infâmias, insultos
e mentiras. Durante a abertura do seminário “Declaração de Direitos de Liberdade
Econômica” promovido pelo STJ, segunda-feira (12), ele chegou ao ponto de
afirmar que as organizações sindicais foram parceiras da ditadura militar
brasileira.
Além de ofender a memória de trabalhadores
perseguidos, presos, torturados e assassinados por aquele regime, ele mostrou,
com esta declaração, que não conhece a história do Brasil. O que ocorreu foi o
inverso do que sugerem as infâmias vomitadas pelo senhor Guedes. Na ditadura de
1964, os sindicatos foram vítimas de intervenções, com seus dirigentes mais
combativos afastados compulsoriamente e colocados no limbo pelo regime.
Basta consultar os arquivos históricos, que ele
parece desconhecer, para saber que o movimento sindical lutou contra o arrocho
salarial e o alto custo de vida e por isso foi violentamente reprimido. Não foi
à toa que a decadência daquele famigerado regime se refletiu nas memoráveis
greves iniciadas no ABC ao final dos anos 1970 e início da década de 1980.
Greves que, vale ressaltar, começaram a partir da denúncia do falseamento de
índices econômicos, feito pela equipe econômica do ditador general Emílio
Garrastazu Médici.
Ao contrário
do que afirmou Guedes, o movimento sindical não apenas não se aliou ao regime
como lutou bravamente pela redemocratização e pela Constituinte.
O senhor Paulo Guedes, que se comporta como um
porta-voz do mercado financeiro, revela-se agora um eloquente mentiroso. Ele
que se diz liberal, serviu ao ditador sanguinário Augusto Pinochet, no Chile, e
agora serve a um governo de extrema direita, intervencionista, retrógrado, que
defende a tortura e os torturadores.
Como funcionário de um governo que está levando
o país ao abismo, com a volta da recessão e altos índices de desemprego, um
governo que enlameou a imagem do Brasil no exterior e atenta diuturnamente
contra a soberania nacional, o meio ambiente e os direitos sociais, Paulo
Guedes não tem qualquer moral para falar mal do movimento sindical brasileiro.
São Paulo, 13 de agosto de
2019.
VAGNER FREITAS – Presidente
da Central Única dos Trabalhadores (CUT)
RICARDO PATAH - Presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT)
ADILSON ARAÚJO - Presidente da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB)
JOSÉ CALIXTO RAMOS - Presidente da Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST)
ANTÔNIO NETO - Presidente da Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB)
ATNÁGORAS TEIXEIRA LOPES - Secretaria Executiva Nacional da CSP- CONLUTAS
CONHEÇA UM POUCO DESSA HISTÓRIA:
O MOVIMENTO SINDICAL dos
TRABALHADORES LUTOU e COMBATEU BRAVAMENTE a DITADURA MILITAR
Depois de 14 anos de repressão, perseguições e
sufocamento imposto pelo Regime Militar, no dia 12 de maio de 1978, os
trabalhadores da fábrica de caminhões da Scania, em São Bernardo do Campo (SP),
cruzaram os braços exigindo um aumento salarial de 20%, acima do reajuste
estipulado pelo governo. A greve da Scania – que rapidamente se alastrou por um
grande número de fábricas na região do ABC paulista – foi o sinal de que um
poderoso ator social estava entrando em cena no país: a classe trabalhadora. O
movimento expressava um novo sindicalismo; combativo, autônomo e organizado a
partir da base. Surpreendeu a ditadura e alterou os rumos da “abertura”, a
transição conservadora do regime que excluía os trabalhadores.
O Novo Sindicalismo, ou “sindicalismo autêntico”, como
também se tornou conhecido e que tinha LULA como um dos seus líderes mais
expressivos, desafiou a legislação ANTIGREVE e começou a romper as amarras da
organização sindical subordinada ao Estado, modelo implantado no país desde a
década de 1940. Os trabalhadores impulsionaram a luta pela redemocratização não
somente por meio de greves: iriam criar seu próprio partido, o PT, em 1980, e a
Central Única dos Trabalhadores, a CUT, em 1983. Articulado com outros
movimentos sociais, o Novo Sindicalismo levaria a pauta dos trabalhadores às
ruas e à Assembleia Constituinte (1987-1988), conferindo nova qualidade à luta
política na transição da ditadura para o regime democrático.
Os principais expoentes do Novo Sindicalismo eram
de uma geração formada sob a repressão do regime militar, que atingiu duramente
os sindicatos e organizações políticas da classe trabalhadora. Uma das
primeiras medidas após o golpe de abril de 1964 foi a proibição do Comando
Geral dos Trabalhadores (CGT), a central sindical ligada ao antigo PTB e ao
PCB. O presidente do CGT, DANTE
PELACANI, foi cassado e perseguido; o vice-presidente, CLODESMIDT RIANI, foi preso; mais de mil sindicalistas foram
cassados, muitos foram presos ou exilados. Cerca de 600 sindicatos sofreram
intervenção da ditadura em 1964 e 1965.
Centenas
de sindicalistas e ativistas sindicais foram perseguidos, presos, torturados e
mortos; e muitos simplesmente desapareceram nos quarteis e em instalações de
tortura do regime.
A repressão implantou uma política de arrocho que
reduziria os salários em cerca de 20% entre 1965 e 1967. O valor real do
salário mínimo seria reduzido em 42% entre 1964 e 1974. Para minar a
resistência dos trabalhadores, o direito à estabilidade no emprego após dez
anos de contrato – que favorecia a organização nos locais de trabalho – foi
substituído pelo Fundo de Garantia do Tempo de Serviço; uma nova legislação praticamente
impediu as greves a partir de junho de 1964.
Mesmo nessas condições, várias categorias
conseguiram manter a combatividade. Em abril de 1968, uma grande greve na
região de Contagem e Belo Horizonte conquistou um aumento nacional de 10%. A repressão caiu sobre os trabalhadores
depois da vitória, com a demissão dos líderes e ativistas. Seus nomes foram
incluídos numa lista de perseguição, que os impediu de trabalhar em qualquer
fábrica da região.
No Primeiro de Maio de 1968, em São Paulo,
sindicalistas e militantes de esquerda protestaram no palanque da solenidade
oficial. Em junho, em Osasco, uma greve de metalúrgicos e com ocupação de
fábrica foi reprimida por tropas do Exército. A greve de Osasco terminou com a
prisão de centenas de trabalhadores.
A
repressão que se seguiu ao AI-5, em dezembro de 1968, parecia ter calado
definitivamente a voz dos trabalhadores. Foi um período de resistência
silenciosa nas fábricas e em poucos sindicatos, pois a maioria das entidades
estava sob intervenção de agentes da ditadura ou sob a direção de “pelegos”,
sindicalistas controlados pelos patrões.
A nova liderança sindical se formou na medida em
que os trabalhadores percebiam o esgotamento do “milagre econômico”, que havia
promovido o crescimento da economia e do parque industrial, ao custo de uma
brutal concentração de renda.
Esse modelo começou a falir a partir do choque de
petróleo de 1973, seguido pela crise da dívida externa e pela estagnação da
economia. A receita do regime para enfrentar a crise recaiu mais uma vez sobre
os trabalhadores, submetidos a uma nova rodada de arrocho salarial e, nos
grandes centros industriais, a um sistema de rotatividade pelo qual as empresas
promoviam demissões em massa para reduzir os salários de contratação (época da rotatividade de mão-de-obra nas
fábricas, conduta praticada pelos empresários periodicamente para achatar os
salários dos trabalhadores).